sábado, 25 de setembro de 2010

O reinício dos tratamentos,

foi um balde de água fria para mim, para os meus pais, para a minha família, amigos, colegas de trabalho… estava tudo incrédulo com a notícia. Eu apesar de triste, mantive-me sempre consciente e com esperança que me curasse de vez. O tempo aqui já não me interessava! Tudo o que queria era curar-me e que a minha vida de volta sem pausas nem interrupções!

Dia 6 de Outubro, segunda-feira de manhã lá estava eu para uma consulta no serviço de Hematologia no Hospital dos Covões! Confirmava-se a notícia que tinha de recomeçar os tratamentos de quimioterapia mais agressivos o quanto antes. Agora era tempo de munir-me de forças e coragem para “enfrentar o touro pelos cornos”! Mais uma vez, Deus mostrou-me que de nada valia chorar, desesperar, revoltar, espernear… As lamurias, o pessimismo, o sentido de derrota, as lamechices de nada me valiam neste momento crucial da minha vida (mais um) porque ou eu LUTAVA ou eu MORRIA!

Fui internada passados 2 dias, no dia 8 de Outubro no serviço de Neurologia. Entrei às 15h e quem me visse era a pessoa mais calma do mundo mas no meu íntimo estava “borradinha” com medo. Nunca tinha estado internada num hospital. Até então, nunca tinha tido nada, partido nada, nunca tinha tido uma baixa médica.

Iniciei o tratamento de quimioterapia de 2.ª linha de acordo com o protocolo R-ICE e consistia em fazer um tratamento de 30m de quimio no 1.º dia de internamento, 24h no segundo. Penso que fiz 3 ciclos de quimio, ou seja, tive internada 3 vezes em tempos diferentes (2 tratamentos em Outubro e um em Novembro). Muito sinceramente, não me lembro se fiz mais algum.

O quarto era bom, recente com toda a comodidade que um hospital podia oferecer, o quarto onde estive era de cor azul (do céu, do mar…), tinha uma televisão e mais duas companheiras de quarto. Na primeira noite que passei no hospital (e para começar bem) vi a morte de uma das minhas companheiras. Quando cheguei a senhora já não estava bem. Encontrava-se ligada às máquinas e fazia-me muita impressão pelo que pedi às enfermeiras para puxarem a cortina de modo a não conseguir visualizá-la (pensava eu que era a primeira vez que assistia à morte de uma pessoa). Acordei de madrugada com o aparato das máquinas a apitarem, as luzes, o pessoal médico e enfermeiros e correrem de um lado para o outro na tentativa de salvarem aquela pessoa.

No dia seguinte, quando acordei, a senhora já não se encontrava no quarto, na cama. Fiquei intrigada e perguntei: “Onde está a senhora que estava aqui na cama ao lado?”. A enfermeira respondeu com um ar muito triste: “Foi transferida…”

Ok! Pensei eu! E rezei por ela, para onde quer que estivesse, estivesse bem e em paz e não estivesse a sofrer. Depois rezei por todas as pessoas que estavam internadas na cirurgia, mas depois rezei pelas pessoas que estavam naquele hospital e depois rezei pelas pessoas que estavam em outros hospitais e rezei também pelas pessoas que estavam em casa doentes e rezei pelas pessoas que estavam a sofrer e rezei também pelos médicos que tratam essas pessoas e pelos enfermeiros que tratam delas e ainda rezei pelas suas famílias e rezei e rezei e rezei…



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Recaída


Mês de Setembro, tive o convite da minha tia para ir passar uma semana às termas de Caldas da Felgueira (no Norte do país) com ela e uma amiga. Aceitei de imediato o convite e pedi férias no meu trabalho. Sentia-me muito cansada, muito triste em relação ao termino da minha relação e muito apreensiva em relação ao resultado da minha endoscopia.

Fomos num Domingo de manhã e estava toda animada com a viagem e o facto de poder estar uma semana com a minha tia num sítio que eu já conhecia e tanto gostava quer pela sua beleza, quer pela sua calma. Não sabia bem o que ia fazer uma vez que não podia usufruir dos tratamentos termais, por questões de saúde e por questões monetárias. Levei revistas e o principal objectivo era dormir, descansar e esquecer tudo o que me fazia mal e prejudicava até então.

Na segunda-feira de manhã, acordámos cedo para ir tomar o pequeno-almoço e fomos até ao edifício das termas para a minha tia e a amiga adquirirem os tratamentos termais para elas. Quando cheguei ao quarto verifiquei que tinha uma chamada não atendida do Hospital dos Covões e entrei logo em pânico. Retribuí a chamada mas a minha médica não me pode atender porque estava a dar consultas. De imediato, liguei ao meu pai na esperança de a médica lhe ter ligado e lhe ter dito o que se passava. Não sabia de nada… mas já estava à espera. Foi uma manhã terrível para mim e para a minha tia que não sabia o que me fazer… Eu parecia uma barata tonta dentro do quarto e o meu coração parecia querer explodir, rebentar de tantos nervos. Voltei a ligar para o hospital e consegui falar com a médica… o pior estava a acontecer… uma recaída! O linfoma voltou no mesmo sítio e tinha que me apresentar no hospital daí a uma semana para começar novos tratamentos!

Como?!? Agora que estava a recomeçar a minha vida?!? Agora que tudo estava a voltar à normalidade?!? Agora que pensava que tudo tinha terminado e tinha como garantido o fim?!? Porquê meu Deus?!? Porquê a mim?!? Porquê aos meus pais?!? Porquê?!?

Foi a semana mais longa, mais difícil, mais angustiante da minha vida… O que é que o futuro me reservava?

A minha tia de tudo fez para me proporcionar o melhor dos melhores! Comprava-me revistas, levava-me a passear, ofereceu-me um casaco em Viseu, massagens e aulas de hidroginástica nas termas. Ensinou a fazer malha para me manter ocupada. E foi aqui que comecei a ganhar amor aos meus cachecóis.

Foi nesta viagem que conheci a Natércia, amiga da minha tia que tinha lutado contra o cancro da mama e venceu! Mulher de garra, de coragem, de força e com uma boa disposição incrível fez de tudo para manter-me sempre positiva! E em alguns momentos ela e o marido conseguiram! Pertence à Associação das Mulheres Mastectomizadas e foi também graças a ela que eu ganhei coragem e força para o que aí vinha!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Agosto, mês de férias. Setembro, mês de mudanças.

O Verão estava a terminar e eu estava super feliz por ter superado um Verão. O meu primeiro Verão sem poder fazer praia. Depois das férias, da ida para o Geres queria retomar a minha vida o quanto antes.

Os meus principais objectivos eram terminar o meu namoro e voltar para a minha casa. E foi o que fiz! Farta, cansada e saturada de tudo e na esperança de uma reviravolta na minha vida que me trouxesse o que tanto procurava e precisava: a paz, a calma e a felicidade tomei as decisões que considerei necessárias e imprescindíveis para o meu bem-estar físico e psíquico.

Durante a semana trabalhava e sentia-me muito cansada das viagens de Vieira para Leiria e vice-versa. Também tinha a minha casa e custava-me muito estar a pagá-la e não estar a usufruir dela. Assim, decidi voltar ao “meu cantinho” e reconquistar o que era meu.

Aos fins-de-semana ia para a Vieira para estar junto das pessoas que mais amo, para poder reunir-me com as minhas amigas, fazermos os nossos jantares e “cafezes”. Era diferente passá-los em Leiria. Normalmente, sempre que ficava em Leiria era em casa a descansar, a ver tv, mas nesta altura o que eu queria era VIVER! Aproveitar todo o tempo para sair, ir ao cinema, divertir-me, conviver, conhecer novas pessoas…

Não estando totalmente satisfeita, quis fazer o que mais gostava e frequentei uma academia de dança (durante pouco tempo)… As minhas aulas de ballet na infância e de dança moderna na adolescência “chamavam-me” para aquilo que eu mais gostava e gosto de fazer mas o corpo não aguentava… Fui motivada e incentivada pela proprietária da academia que (tal como eu) era doente oncológica. Tinha-lhe sido diagnosticada uma leucemia e ofereceu-me a inscrição e permitiu-me frequentar todas as aulas que quisesse. (Um sinal de Deus!)

O tempo que estive a morar em Leiria, fez-me reaproximar e rever amigos de longa data. Andava alegre, divertida, perdida, cansada e por dentro, a minha alma doía…

Estava a sofrer mais uma perda…


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Nova consulta e a vida continua

Em 17 de Julho, desloquei-me ao Hospital dos Covões para nova consulta de hematologia com a minha médica.

Coloquei várias questões, nomeadamente, sobre a minha falta de memória, o sol, a medicação que tinha de continuar a tomar, se podia voltar para a minha casa, quanto tempo iria demorar a crescer o meu cabelo, quando podia ir ao dentista e ao ginecologista…

Foi-me receitado ferro para tomar depois de almoço com sumo de laranja ou vinho tinto uma vez que ajudava à absorção do mesmo no organismo. Foi-me proibido o consumo de leite ou derivados com a toma destes comprimidos por fazerem o efeito contrário.

A minha vida prosseguia normalmente com todos os cuidados recomendados pela médica e a minha prioridade era ter férias!! Sair daqui, ir para um sítio diferente e tranquilo que me fizesse esquecer tudo e todos e me fizesse carregar baterias! Ninguém imaginava o quanto era importante para mim sair daqui!

Depois de várias pesquisas e diálogos com a Diana decidi que o melhor sítio para ir era o Norte do país, mais concretamente o Gerês, uma vez que não existia praia podia andar à vontade e aproveitava para conhecer melhor essa região. Fiz questão de arranjar como alojamento um apartamento T0 onde me permitisse fazer as minhas próprias refeições e ter sempre comida disponível. Como não podia deixar de ser tinha de ter (obrigatoriamente) piscina. Apesar de ainda andar de lenço e não ter cabelo tinha de arranjar uma maneira de lá poder andar à vontade e arranjei! Andei com a careca ao léu!  :D

Fartei-me de passear! Conheci Vieira do Minho, andei de gaivota, fui passear e conhecer Braga, visitei o Santuário São Bento da Porta Aberta e ainda tive oportunidade de conhecer Famalicão. Quis visitar Vilarinho das Furnas mas não consegui ir. Fica para uma próxima vez! Foi bom sair daqui, apanhar novos ares e arejar.

Quando voltei sentia-me renovada mas cansada...

“Já estive aqui antes e voltarei outra vez, mas não terminarei esta viagem” Bob Marley

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O meu aniversário

Chegou o dia 11 de Julho, o dia do meu aniversário! O dia tão desejado por mim. Estava muito feliz por ter conseguido atingir o meu objectivo e por me encontrar viva e poder comemorar mais um ano de vida.

Foi um dia surpreendente!

Fui trabalhar e à hora de almoço a minha estrelinha insistiu que tínhamos de ir almoçar fora para comemorar (desde que fiquei doente que faço questão de levar a minha própria comida. Nem sempre me dá “jeito” mas para além de ficar mais barato também é mais saudável). Escolhemos o local no jardim Luís de Camões em Leiria, perto da Associação para não perdermos muito tempo e almoçarmos tranquilamente. Quando entrei no restaurante fiquei estupefacta quando vi a minha coordenadora e todos os meus colegas de trabalho. Eu nem imagino a minha cara quando entrei no restaurante!! Lol. Almoçámos e no fim fui surpreendida mais uma vez com um bolo de aniversário feito pela minha coordenadora. Um óptimo e excelente bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Hum… (já se comia uma fatia) Estava delicioso e as lágrimas não me paravam de cair. Fiquei sem palavras… ADOREI! AMEI! CHOQUEI com as surpresas!

À noite, os meus pais organizaram um jantar de família com os meus avós. Convidei alguns amigos mais chegados para mais tarde, comerem uma fatia de bolo. Depois fomos até aos bares da praia da Vieira. A noite não foi muito pacífica e tão feliz como estava à espera e desejava. Na altura, o meu namorado não era (e não é) a pessoa mais querida do mundo e as minhas amigas nunca o viram com muito “bons olhos”. Quando queria conseguia ser provocador e (parabéns) porque conseguia irritar qualquer um(a).

Foi um dia muito feliz em que fica na minha memória o almoço surpresa que os meus colegas de trabalho me fizeram e o qual eu agradeço MUITO e (mais uma vez) o esforço dos meus pais em me proporcionarem o melhor neste dia tão especial para mim. O meu muito OBRIGADA!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Último tratamento de quimio

Foi no dia 12 de Junho de 2008 que fiz (aquele que pensava ser) o meu último tratamento de quimio. Estava radiante, super feliz porque tudo tinha terminado e não passava tudo de uma má fase num período menos feliz da minha vida.

Neste dia, muitas foram as pessoas com quem partilhei a minha felicidade e recebi mensagens e telefonemas incríveis a quem agradeço muito.

O meu objectivo estava a ser realizado! A data do meu aniversário estava a aproximar-se e eu estava livre de consultas e tratamentos. Daqui para a frente era seguir com a minha vida, voltar a trabalhar a 100%, voltar para a minha casa, terminar o meu namoro e ser Feliz!

Sabia que apesar de estar viva e curada esse Verão não ia ser como o do ano passado porque não podia ir para a praia e tinha muitos cuidados a ter, especialmente com a alimentação. Tinha de arranjar outras maneiras de passar o Verão de uma forma diferente. Não saía de casa sem colocar protector e fizesse o calor que fizesse andava sempre tapada com boleros ou casacos. Não havia nenhum raio de sol que entrasse em mim. Lol. À noite quando saía, colocava um pó, uma base mais escura para parecer mais bronzeada e continuava a usar os meus lenços sempre a condizer (pois tá claro!).

Não foi um Verão muito feliz mas passou-se. Estava VIVA e tinha ganho uma batalha! Isso é que era importante!

domingo, 12 de setembro de 2010

E porque muito mais tinha para dizer...

“Minha Pérola, presto aqui a minha homenagem a ti! É graças a ti que o meu blog existe e agradeço-te por isso! Para mim sempre foste sincera, leal, humilde, companheira, amiga, querida, divertida, positiva, corajosa… Existem poucas pessoas como tu. Apesar de tudo o que estavas a passar nunca te queixavas, nunca falavas mal, nunca te revoltavas. Aceitas-te o que Deus te deu e lutaste sempre como uma verdadeira guerreira e sempre com um sorriso lindo e um amor gigantesco. Sei e sinto que és um anjinho que estás no céu a olhar por todos nós e agradeço-te tudo o que tens feito por mim. Estás e estarás sempre no meu coração e não há dia nenhum que não pense em ti! Não me arrependo de nada e foi um enorme prazer e orgulho ter-te conhecido e ter-te na minha vida! Sinto que ainda não fiz o luto pela tua perda porque não consigo aceitar e conformar-me com a tua partida. As saudades são muitas, são imensas. Adoro-te mais que muito! Da tua e sempre amiga Andreia.”


Aqui deixo a nossa música. Sempre que a ouvíamos achávamos que era um sinal de Deus a dizer-nos para nunca desistirmos. E não desistimos! 



A minha pérola

Foi no dia 17 de Maio de 2008 que conheci a Diana, aquela que viria ser a minha pérola. Ouvi falar da Diana através de uma amiga em comum que por sinal soube no mesmo dia, que eu e a Diana estávamos doentes com linfoma (ainda que distintos).

Fui pesquisar a Diana no hi5 (abençoado!) através dos amigos dessa nossa amiga e mandei-lhe uma primeira mensagem a apresentar-me. Tive a resposta passado uns dias e trocámos logo os números de telemóvel para que pudéssemos estar em contacto.

A Diana encontrava-se na Covilhã a fazer tratamentos, uma vez que era lá que vivia e ligou-me a marcar um encontro porque vinha à Marinha Grande visitar os pais nesse fim de semana.

Ambas queríamos conhecer-nos por ouvirmos falar tanto uma da outra. Eu estava em “pulgas” para a conhecer pessoalmente! Pelo que eu já conhecia da Diana era uma pessoa que quanto mais se conhecia, mais se queria conhecer. Apesar de comunicarmos via “net” e via “móvel” nunca é a mesma coisa ver uma pessoa ao vivo e a cores!

Combinámos o encontro para Sábado à tarde no bar/café Operário e acompanhou-me a Dayse (namorada do meu irmão na altura).

Assim que entrámos a Diana e o Hélio (marido) já estavam à nossa espera e assim que nos cumprimentámos houve logo uma empatia imediata. A Diana era uma pessoa muito acessível, muito humilde, muito educada e com um sorriso maravilhoso que encantava qualquer pessoa. Eu usava lenço na altura e sei que a Diana ficou um bocadinho “chocada”, mas depois de falarmos, de sentirmos, de vermos que tínhamos tanto em comum isso passou e até lhe causou alguma confusão porque ambas estávamos a fazer tratamentos de quimio…

Disse à Diana que estava a ler o livro “Viver de Amar” de Otília Pires de Lima e que me estava a ajudar bastante na luta contra a doença. Ela comprou-o e também o leu! Adorou! O livro “Viver de Amar” deu-nos todas as esperanças e forças que precisávamos.

Tornámo-nos grandes amigas e sempre que falávamos uma com a outra o nosso tempo parava e o “peso” diminuía. Falávamos abertamente sobre tudo! Não havia julgamentos, existia muita sinceridade, muita cumplicidade e muitos, muitos risos. Trocávamos experiências e divertíamo-nos bastante e coincidência ou não, sentíamos as mesmas coisas e passávamos pelas mesmas coisas nas mesmas alturas.

Em questão de amores, a Dianinha estava muito, mas muito melhor que eu! Era com a Diana que desabafava e falava abertamente sobre o meu ex-namorado. Talvez por não o conhecer sentia-me mais à vontade para lhe contar tudo o que se passava e ela sempre me apoiou bastante. Cada vez que falávamos perguntava se já estava melhor e quando lhe respondia: “Não” (sempre a mesma resposta) desatávamos as duas a rir! Ao longo das nossas conversas muitas foram as vezes que nos emocionámos as duas… Quanto mais falávamos mais tínhamos para falar.

A Diana era a minha grande companheira de luta, uma pessoa incrível, fantástica com uma maneira de ser e de estar nunca vista. Adorava ler, adorava escrever, adorava os amigos, amava a família e amava a vida!

Tinha um blog (http://naminhaconcha-perola.blogspot.com/) onde escrevia tudo o que lhe ia na alma e no coração e eu fazia sempre questão de o acompanhar porque me revia na maioria das coisas que escrevia e porque a adorava e admirava muito. Ainda hoje acompanho o blog porque não há dia nenhum que não pense na minha pérola, no seu sorriso e o seu blog é uma forma de me sentir mais perto dela.

Tínhamos vários projectos em mente: organizar seminários, fóruns, workshops em parceria com várias entidades e pessoas (profissionais de saúde, pessoas que já estivessem curadas de cancro) que falassem e esclarecessem os doentes oncológicos e os seus familiares. Como não nos sentíamos muito apoiadas queríamos levar a informação, a força, a fé, a esperança a todos os que estivessem interessados. Esta ideia também surgiu pelo amor que temos aos nossos pais e por sabermos que eles estavam a sofrer muito. Queríamos que soubessem que é possível a cura e que nós nos íamos curar. Projectos e ideias não nos faltavam. Faltava-nos a saúde para seguirmos em frente.



sábado, 11 de setembro de 2010

30 de Abril 2008 – Jantar dos 10 anos da Expo’98

Depois de terminar o meu curso técnico-profissional de Turismo na EPAMG – Escola Profissional e Artística da Marinha Grande em 1997, tive a oportunidade de ir trabalhar para a Expo’98. Não que alguém me tivesse convidado, é claro! Como tudo na minha vida, tive de ir à luta! A terminar o meu curso queria imediatamente começar a trabalhar, mas não sabia muito bem onde nem a fazer o quê. Numa visita a uma Univa – Unidade de Inserção na Vida Activa que existia na Marinha Grande perto da escola para me ajudarem a fazer um currículo, vi um anúncio para voluntários. Hum… Não era bem o que eu queria…

Comecei à procura de trabalho, fartei-me de enviar currículos e de ir a entrevistas e… nada. Um dia fui com uma amiga a Leiria “às compras”, ou melhor, ver as lojas e não comprar nada porque o dinheiro nunca foi muito… Tristes com a “visita” às lojas decidimos mudar o rumo da nossa vinda a Leiria e resolvemos ir até ao IPJ – Instituto Português da Juventude onde vimos afixados vários anúncios para trabalho voluntário na Expo. A ideia era aliciante, muito interessante mas trabalhar de graça não era para mim!! É que mesmo que eu quisesse era impossível!  Como é que pagava as viagens? A alimentação? A estadia? Era impensável! Voltei à Univa na Marinha Grande e falei com a técnica, a Dr.ª Catarina. Não queria ser voluntária, queria ir trabalhar a tempo inteiro como as pessoas normais. Já não era nenhuma garota e queria ter um trabalho a sério! Nesta altura trabalhava num supermercado na Vieira. Eu gostava mas não me via a trabalhar ali o resto da minha vida (e ainda bem! Porque depois fechou! Agora é uma loja chinesa). Fiz um currículo à maneira e enviei-o para a sede da Expo’98 na esperança que alguém me chamasse… E chamaram!! Mandaram-me um telegrama numa sexta para me apresentar na Expo numa segunda. Que confusão!! Parecia uma barata tonta!! Estava a trabalhar e tinha responsabilidades! Não podia e não queria faltar ao trabalho. Viagens e viagens, entrevistas e entrevistas, e fui admitida! O processo de recrutamento foi horrível! Nunca fui tão humilhada (ou melhor… até fui por várias vezes e pessoas diferentes mas nesta altura ainda não sabia o que me reservava o futuro) mas consegui e fui trabalhar para a Expo’98!

Fui destacada para trabalhar no melhor pavilhão da Expo (para mim, pois tá claro) – O “Pavilhão do Conhecimento dos Mares”, actual Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva. Para mim foi uma vitória pessoal! Ir trabalhar para Lisboa para um lugar com a projecção da Expo’98 foi a loucura total! Ainda nem estava em mim, nem sabia como tinha conseguido. Fiz imensos amigos e conheci pessoas magníficas e extraordinárias que desde 1998 me têm acompanhado ao longo da vida e estão no meu coração!

Em 30 de Abril de 2008 foi realizado o jantar dos 10 anos (graças à persistência do meu amigo Carlos). Conseguiu-se através da internet, das redes sociais e do passa a palavra reunir a equipa do pavilhão. Infelizmente não estiveram todos presentes… Uns porque não conseguiram ir, outros porque já não estão entre nós… Mesmo assim foi muito bom o reencontro! Foi óptimo! E tão engraçado… Conhecia toda a gente, mas lembrar-me de todos os nomes foi a tarefa mais difícil que tive. Lá me consegui desembrulhar e foi bom ver pessoas dez anos mais “velhotas”.

A ida a esse jantar, foi uma aventura… Desde que tomei conhecimento que esse jantar se ia realizar disse imediatamente “EU VOU! EU QUERO IR!” mas… para o meu pai ir para Lisboa era um atrofio, namorado não tinha carta, carro e nem pensar levá-lo (só os amigos dele é que eram bons! Os meus não valiam nada! E jantar sem minis não era muito a onda dele!) Ir de autocarro era para esquecer! (andava no meio dos tratamentos). Já nem sabia o que fazer! Não havia nenhuma forma, jeito ou maneira de ir áquele jantar e já me estava a passar da marmita!!

Nessa altura fartei-me de barafustar com Deus e ele ouviu-me! O meu vizinho e o meu pai levaram-me de propósito a Lisboa ao jantar dos 10 anos da Expo e eu sentia-me a pessoa mais feliz deste mundo (e a mais nervosa também!). Nunca, mas NUNCA vou esquecer tamanho gesto de ambos porque não ficaram comigo no jantar. Foram para a Parede ter com o meu tio e a minha madrinha enquanto o jantar decorria. Sinto que foi bom para mim e também para o meu pai.

Fui ao jantar, reencontrei-me com os meus colegas e amigos do pavilhão e foi uma noite fantástica e inesquecível onde convivemos, confraternizámos, recordámos momentos passados e durante o jantar foram passados filmes daquela altura… Era tão nova, tão jovem e tão, mas tão feliz!

"Todos os dias Deus dá-nos um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um 'sim' ou um 'não' pode mudar toda a nossa existência." Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei – Paulo Coelho


terça-feira, 7 de setembro de 2010

O que eu fiz para ser Feliz!

Quem me conheceu e me conhece sabe que sou bem-disposta (tem dias…), que adoro rir, adoro divertir-me, dizer umas boas piadas e por tudo a mexer. Adoro sair, conhecer pessoas novas, locais novos, conviver, sair à noite, arranjar-me, ficar diferente e AMO dançar! “Abanar o esqueleto” como eu costumo dizer.

Não foram tempos fáceis os que eu passei e usei todas as “armas” que estavam ao meu alcance para me manter bem e feliz!

Ainda que não tivesse a vida perfeita, o amor perfeito, o namorado perfeito, a saúde perfeita, a imagem perfeita, eu iria encontrar a perfeição… um dia… enquanto esse dia não chegasse tinha de aceitar e lutar pelo meu sonho, pelos meus objectivos.

O que me mantinha “viva” era sempre a imagem presente de mim na praia com um belo biquíni amarelo, com um bronzeado estonteante e os meus longos cabelos na “minha” Praia da Vieira rodeada de amigos, a passear á beira mar, a ler um bom livro, a dormir… a fazer qualquer coisa desde que fosse na praia!! Era este objectivo que tinha determinado para mim! A minha cura e o fim dos tratamentos no Verão de 2008!

Enquanto isso não acontecia tinha uma vida “normal”. Tudo o que queria era ser normal, mas nem sempre a normalidade vivia em mim e em determinadas alturas em que eu “descia à terra” e era confrontada com o que me estava a acontecer davam-me grandes ataques de choro, de raiva, de angústia, de desespero... Muitas das vezes acordava assim! Só me apetecia chorar, berrar, espernear, bater em alguém… enfim…

Para contrariar os maus sentimentos que se apoderavam de mim, muitas vezes sugeria ao meu pai para ele durante a tarde ir dar o seu passeio a pé. O objectivo era deixar-me sozinha em casa. Dizia para não se preocupar que eu ficava bem e se precisasse de alguma coisa ligava-lhe para o telemóvel (afinal é para isso que ele existe, né?!?).

Era a pura da loucura naquela casa! Ligava a televisão na MTV ou outro canal com boa música, colocava o som nas alturas e dançava até não sentir forças no meu corpo (elas já não existiam em mim, mas a vontade era tanta que a força vinha não sei de onde, nem sei bem como)! Chorava muito mas dava por mim a rir que nem uma maluca porque conseguia-me ver nos vidros da porta que dá acesso a uma outra sala onde está o computador. Era a loucura total! Inventava coreografias e fazia figuras muito tristes (é verdade) mas muito cómicas! Acabava sempre a minha coreografia a “atirar-me” para o sofá e nessas noites dormia tão bem...

Nem sempre a televisão da sala estava disponível para “ver” a MTV e outros canais de música então em determinada altura emprestaram-me um DVD com um concerto ao vivo da Ivete Sangalo que fazia arrepiar todos os pelinhos do meu corpo (os poucos que eu tinha, pois tá claro!) e me deixava completamente electrizada (se é que me faço entender). Não conseguia parar de me mexer, de cantar, de dançar… Eu AMAVA aquela mulher, aquele música que por alguns momentos me fazia esquecer de tudo e de todos e sentir-me a mulher mais feliz, mais linda e maravilhosa do MUNDO!!

Os amigos também foram importantes e sair com eles/elas era muito bom! Sentia-me muito feliz sempre que era convidada para uma festa (fosse ela qual fosse) fazia-me sentir bem, viva!

“Todos os dias fazemos muitas coisas que não são importantes. Mas é muito importante que as façamos” Mahatma Gandhi





PS=Vejam o vídeo até ao fim e divirtam-se! SEJAM FELIZES!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O que eu fiz para me curar!


Sempre que ia ao hospital às consultas de hematologia tinha sempre uma “lista” de perguntas para fazer à minha médica. As dúvidas eram tantas que tinha de escrever tudo para não me esquecer (em 3 semanas “varria-se-me” tudo do meu cérebro!). Ora bem, aqui vai a minha 1.ª lista de questões colocadas e as respectivas respostas:


1.º P.: Quando é que posso ir para a praia?

R.: 6 meses depois de terminar os tratamentos (mal eu sabia que ia estar 2 anos sem saber o que era sentir areia nos meus pés e tomar um banho de mar…)

2.º P.: Posso brincar com o meu cão? (na altura era o meu Pluto… desapareceu pouco depois de me ter sido diagnosticado o meu linfoma… era um verdadeiro espectáculo! Rafeiro, mas muito meiguinho… saudades? Muitas!!)

R.: Sim, desde que seja devidamente tratado e vacinado.

3.º P.: Posso lidar com crianças, brincar com elas? (os “meus sobrinhos” lindos)

R.: Nada de creches! 

4.º P.: Posso usar verniz nas unhas?

R.: Sim.

5.º P.: Posso comer fritos? (adoro um belo rissol e amo um belo douradinho de pescada Iglo!)

R.: Sim, mas muito raramente.

6.º P.: Que quantidade de água devo ingerir?

R.: 3 litros por dia! (andava sempre com o copo na boca… que sacrifício! Custava-me muito sentir o frio na boca… os meus dentes estavam tão sensíveis…)

7.º P.: Posso ingerir bebidas gasificadas?

R.: Não. (dah!!!)

8.º P.: Posso beber vinho?

R.: Só vinho tinto, 1 copo às refeições.

Durante a fase dos tratamentos de quimio, fiz terapias “complementares” para o meu bem-estar e para a minha cura! Uma delas foi frequentar consultas de Magnetoterapia em Fátima. Esta terapia consiste na arte da cura através de imãs, capazes de restabelecer e manter o equilíbrio enérgico, aumentando a minha resistência física e psicológica (que bem precisava!).

No meu caso, a terapeuta utilizava os ímãs das suas mãos no meu estômago, ou seja, o que se pretendia era estimular os canais de energia do meu corpo, sem danificar o organismo, restabelecendo-o e curando-o através de massagens na parte do meu estômago. Para além das consultas tinha de fazer uma dieta muito rigorosa que consistia só na ingestão de legumes e frutas biológicas. (Claro que não fiz nada disto, porque precisava de ter uma alimentação cuidada e variada!)

Considerada tanto curativa, quanto preventiva, a magnetoterapia não tem contra-indicação e tinha como benefícios o combate das dores, aumento da capacidade respiratória, correcção da pressão sanguínea, eliminação do cansaço, alivio à rigidez dos músculos e imunização do corpo contra determinadas doenças. (Era o ideal para mim!!!)

Cada sessão de magnetoterapia durava cerca de 40 minutos e a mim fazia-me verdadeiros milagres pois proporcionava-me um alto grau de relaxamento e bem-estar. No total, fiz cerca de 19 consultas (de Fevereiro a Setembro de 2008) a 35€ por consulta, uma vez por semana pagas na sua maioria pelos meus pais.

Como eu e os meus pais fazíamos TUDO o que estivesse ao nosso alcance para obter o meu sucesso, a minha cura (o mais rápido e eficaz possível), fiz também tratamentos espirituais em que tinha de estar 3 dias em casa em repouso absoluto sem visitas, sem telemóvel e sem acesso a televisão.

Os tratamentos espirituais tinham/têm como objectivo auxiliar no tratamento de doenças do corpo e/ou da mente. São denominados de espirituais porque são realizados - no corpo físico ou no chamado perispírito - por espíritos desencarnados, com o eventual auxílio de um médium.

Durante a realização destes tratamentos passava a maior parte do tempo a dormir, a rezar e a pensar (na maioria das vezes) no que o meu namorado andava a fazer enquanto eu estava fechada em casa. A falta de confiança dava cabo de mim… e infelizmente veio-se a provar que tinha razões para estar inquieta… Não podia confiar!

"A persistência é o caminho do êxito." Charles Chaplin

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A minha alimentação

Nesta fase, toda a minha vida foi completamente alterada e modificada. Nada do que era e fazia era ou podia ser igual. O sucesso dos tratamentos e o tempo dependiam só de mim. O meu grande e único objectivo era terminar os tratamentos no dia do meu aniversário, 11 de Julho de 2008. Estabeleci para mim própria esse objectivo e nada mais interessava!

Claro que contei sempre com a ajuda imprescindível e fundamental da minha cozinheira particular, a minha mãe. A ela competia recolher toda a informação dos alimentos muito bons que eu tinha de consumir para que os meus valores tivessem sempre em alta para que nunca deixasse um tratamento para trás. Era uma corrida contra o tempo!

Passei horas na Internet a recolher informação sobre os melhores alimentos adequados ao meu caso clínico.

Eu sabia que alimentando-me correctamente iria sentir-me melhor e mais forte, além de manter ou recuperar o meu peso, iria também tolerar melhor os tratamentos e os efeitos secundários.

A minha alimentação tinha de ser de acordo com os efeitos secundários da quimioterapia, ou seja, nas alturas que andava mais enjoada e com alteração de paladar ou odor, tinha de comer mais vezes ao dia, não ingerir líquidos durante as refeições, ficar longe da cozinha durante o preparo das refeições devido aos odores da comida, as refeições tinham de ser ingeridas em temperatura fria ou gelada ou à temperatura ambiente. Quando andava com diarreia, tinha de beber muitos, muitos líquidos, comer muita gelatina e comer caldo de arroz bem cozido com cenoura. Nesta altura não podia comer alimentos laxativos como verduras e frutas. Já quando tinha prisão de ventre, tinha de beber muitos líquidos e ingerir alimentos ricos em fibras. Quando andava com a boca inflamada (que era quase sempre) a comida tinha de ser pastosa.

Começava o dia com a minha mãe em stress a acordar-me porque tinha de comer e tomar a medicação. Sumo de fruta com beterraba (porque tinha bastante ferro) e uma torrada ou pão com manteiga. No início o sumo era super, super espesso e custava-me imenso bebe-lo, mas depois a minha mãe arranjou uma máquina própria de fazer sumos e foi a minha salvação! Almoço (feito pelo meu pai) e jantar eram essencialmente ricos em ferro: fígado (que eu adoro!), brócolos (que eu adoro!), espinafres cozidos (muitos!), alho francês (tanto!), agrião, feijão verde, lentilhas… etc. Tudo o que era rico em ferro e vitaminas e me ajudava estava lá! A Rosemary (minha mãe) não brincava em serviço e ia até ao fim do mundo para me arranjar e fazer o melhor! E resultou! Parabéns mãe!!! :D

Aprendi a gostar de cavala (peixe - que bom) e a adorar salmão. Comecei a privilegiar o peixe na minha alimentação e deixei de comer carne de porco. Adoptei a carne de vaca, frango e peru e houve uma altura que comia carne de cavalo, mas não gostei muito por considerar uma carne muito rija. Mas fazia muito bem… e eu comia, claro!

A minha alimentação era essencialmente cozidos e grelhados. Fritos raríssimos ou nenhuns e bebia essencialmente água. Nunca mais bebi refrigerantes e muito sinceramente não sinto falta.

Iogurtes de aloé vera com cereais integrais e muesli… Comia e (como) fruta! Nesta altura, a minha médica mandava-me comer chocolates e nem sempre me apetecia muito porque ficava enjoada.

"Quando você quer alguma coisa, todo o Universo conspira para que você realize o seu desejo" Paulo Coelho

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Os tratamentos e os efeitos secundários :(

Na fase inicial da minha doença fazia tratamentos de quimioterapia de 3 em 3 semanas no Hospital dos Covões em regime ambulatório. O ritual começava de madrugada, normalmente saíamos da Vieira às 7h da manhã, para chegarmos ao serviço de Hematologia às 8h para fazermos a minha inscrição que era por ordem de chegada, seguido das análises, para ter consulta com a médica para ela analisar todos os meus valores e receitar-me o tratamento a administrar. Era um dia esgotante para mim, os meus pais e a minha tia que sempre fez questão de me acompanhar! Enquanto fazia o tratamento tentava passar o tempo da melhor maneira, na conversa, a ler, a dormir ou a comer rebuçados porque o sabor da medicação na minha boca era horrível. Mau, mau era a hora de almoço com aquele cheiro horrível da comida de hospital. Bah!! Os meus tratamento de quimioterapia demoraram cerca de 4 meses.

Numa tarde, durante a semana e depois de um tratamento de quimio, o meu pai convidou-me a ir dar um passeio com ele. Ou é como quem diz… fez-me sair de casa! Uma vez que não podia passear à beira-mar (tinha sido proibida pela médica) fomos passear/andar para o pinhal. E que bem me soube… sensação de liberdade… apanhar com vento na cara, sentir e ouvir a natureza… estava VIVA! Sentia-me VIVA! Andava ao lado do meu pai e estava a falar ao telemóvel com uma amiga quando senti desequilíbrios e me senti a andar de lado. Que sensação… por muito que me esforçasse para andar direita não era capaz! Só perguntava ao meu pai “O que é isto pai? O que é que se passa comigo?”. Estava super preocupada e (confesso) que senti medo. O meu pai deu-me o braço e tentou desvalorizar a situação dizendo que era efeito dos medicamentos. Naquele momento só queria chegar ao carro e ir para casa.

Outros sintomas que tive foi a perda de apetite, penso que associada a alterações do meu paladar. Sentia um cansaço horrível, o meu corpo pesava-me toneladas.

Com os tratamentos os meus glóbulos brancos baixaram, e com isto podia desenvolver infecções com mais facilidade. Para contrariar esta situação eram-me receitadas injecções que tinha de levar na barriga. A primeira injecção fui levá-la ao posto médico da Vieira para ver como se fazia, as restantes era eu própria que mas administrava em mim sempre à mesma hora. Num dia no lado direito do umbigo, no outro dia no lado oposto para dar descanso.

Não me doía levar as injecções, os efeitos secundários é que me deixavam ko! Sentia tanta dor no meu corpo! Principalmente na parte superior da cintura. Era impossível arranjar posição para estar! Horrível!

Outro dos sintomas era o meu problema de concentração e falta de memória. Esquecia-me de tudo e não tomava atenção a nada.

O pior dos sintomas foi as muitíssimas dores nas minhas gengivas. Sentia a boca toda inflamada e passava o tempo todo a bochechar “Miconstantin”. Usado quando o organismo está enfraquecido por carências nutricionais, vitamínicas e imunológicas eu bebia “litradas” deste medicamento para me aliviar as dores que sentia. Houve uma altura que só o antibiótico me salvou!

Tive cólicas e diarreia. Houve um dia que fui trabalhar e as minhas colegas tiveram de me levar a casa porque passei algum tempo (nem sei quanto) fechada numa casa de banho do trabalho cheia de tanto calor, afrontamentos, com a careca ao léu… já nem sabia como havia de estar…

Tonturas, mau estar e no que toca ao meu período menstrual este tornou-se irregular e ausente provocando-me uma menstruação desregulada, o que me causava irritabilidade em certos momentos.

O querer de poder continuar uma vida normal, de ter o meu trabalho, a minha rotina, a minha vida fez-me ignorar todos estes sintomas e seguir em frente!

“Dos fracos não reza a história!”